lundi 28 février 2011

Liberdade de escolha

    Se assim fosse, tão simples, andaria com o meu desejo nas mãos, ou nas costas pendurado e soltaria onde quisesse, no mar, para que ele se dissolvesse na água e se tornasse outro tipo de coisa, uma solução, ou um organismo vivo, um peixe. E já não seria mais meu. Outra alternativa seria jogá-lo no meio de uma selva escura, fechada. Talvez fosse perigoso, atraídas por ele, as pessoas correriam mata à dentro e seriam obrigadas a fazer o que jamais teriam feito em outra época e morreriam ou nasceriam depois de encontrá-lo. Ou então laçaria meu desejo na galáxia, no meio do buraco negro que absorveria toda a luz do meu desejo e ele se tornaria um nada, não estaria em parte alguma, nem mesmo aqui dentro de mim, do meu corpo, carcaça sem valor, o meu desejo não cabe dentro dele. Viver somente é uma banalidade, posso morrer a qualquer momento e não sinto isto ou aquilo porque penso que sinto isto ou aquilo.  Mas o meu desejo ele não pensa, ele se avoluma em ondas, em graus, em tempo e a cada instante. Agorinha ele já não é mais o mesmo. Ele se metamorfoseia se esvai e o meu corpo fica esperando o milagre terrestre aos meus olhos do nascer e do pôr do sol. Se ele tomar conta de mim morrerei. O meu desejo tem todas as dimensões, sou escrava dele pra sempre, e não quero me libertar.